10 de agosto de 2020

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Pequeno texto sobre o "encontrar-se"

Lá fora eu vejo pessoas seguindo o seu caminho, encontrando seus pares, procurando uma nova fantasia para ocuparem a mente em seus poderosos aparelhos celulares. As tardes seguem vazias no centro da cidade, sem brilho, sem sorrisos e sem aquelas conversas sinceras que expõem a imensidão existente dentro de cada um. 
As pessoas fingem estarem sozinhas em todos os ambientes, mesmo rodeadas de pessoas. Isso acontece porque assim torna-se fácil passar por cima do medo da comparação, da estigmatização, da vergonha da própria subestimação que conflitua dentro de cada um com o medo de arriscar, travando os músculos, trazendo a impossibilidade de se ir longe, de engatinhar, de simplesmente admitir que toda decisão acarreta um começo. As pessoas tem medo de serem pequenas demais para esse mundo que parece tão grande, mas que pode ser extremamente menor e incrivelmente comum àquilo que cada um tem medo de demonstrar.
Nós seguimos distantes, mesmo sem razões para sofrer, mesmo com uma mão amiga, já cansada, estendida em nossa direção. Procuramos no céu a imensidão que não somos capazes de encontrar em nosso próximo, procuramos a força que as vezes pensamos não haver na beleza de sentir, na beleza de simplesmente prosseguir e deixar o coração bater mais forte. 
Um dia não teremos medo de nos cegarmos com o nascer do sol em nossa fronte, um dia os pássaros estarão mais perto e sentiremos a brisa suave em nossos cabelos. Um dia a utopia tornar-se-á realidade e sentiremos o carinho que estamos, a cada novo amanhecer, preparando a nós mesmos. Será como um agradecimento pelo prosseguimento, pela coragem, insistência e, acima de tudo, pela certeza de amar cada milímetro do que se é. 

Não desista de se encontrar. 

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13 de abril de 2020

Humano anatomicamente e sentimentalmente fraco

É como se a menina fosse uma viajante no tempo de um ano bem antes que o ano passado e agora estivesse na janela do ônibus espacial vendo o quanto o presente mudou enquanto ela não estava lá. Pra ela parece que o brilho acabou muito antes e nada do que houve desde então fez algum sentido, como se o tempo estivesse congelado e a vida passasse com ela parada, na espera do momento certo para pular para o estágio favorito. 
As estrelas brilharam durante todas aquelas noites calmas e a chuva voltou a cair centenas de vezes. O alvo foi acertado e a nota mais alcançada no final. A história acabou, a menina releu e até decorou e no final nada parece ter feito nenhum sentido. 
É como se tudo fugisse lá no início para uma realidade paralela em que ela não pôde estar de verdade, como se o caos tomasse conta de todas as boas lembranças e infelizmente só os insultos fossem absorvidos. 
Lá no alto há algo estranho voltando. Lá no alto, um pontinho azul. Um capacete de astronauta. Uma música calma. Um sono profundo desperto. Lá no alto, quem sabe de um jeito menos fraco, quem sabe com um propósito genuíno e até altruísta. Lá do alto desce ela para o chão. É a realidade. Ninguém está salvo. Ninguém está salvo e já passou da hora de encontrar a própria órbita e voltar. 

Somos todos modernos humanos anatomicamente e sentimentalmente fracos. 
Todos e, embora diferentes, não somos melhores e nem piores uns que os outros. Respeite quem você é, sem comparações, seja fiel a si mesmo. 
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31 de março de 2020

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A contra-mão pode ser o melhor caminho

É difícil acertar na primeira escolha, é quase impossível tocar o céu no primeiro passo e, mais complicado do que tudo isso, na grande maioria das vezes, é aceitar que não se está no topo do pódio dentro do período previsto.
A vida é feita de andar e andar e nem sempre isso significa caminhar em linha reta, sem cair aqui e ali, sem parar no meio da jornada, sem olhar para trás e criar um grande círculo e, caso este for o objetivo, pode ser que nem sempre a vida seja cíclica também.
Tudo é sobre errar. Isso mesmo! Todas as pequenas partes que compõem o que se é de verdade, somente fazem parte do todo que se é porque foram repetidas, lembradas mais uma vez, porque lá no início saíram erradas e houve a necessidade da repetição por uma, duas, três vezes até que o acorde enfim soasse bem, mas então, no momento de tocar a música, o ritmo resolveu não se adequar. Dessa forma, lá se foram mais incontáveis tentativas, até atingir o êxito tão aguardado. Ou não.
Quem disse que esse acerto aguardado por tantos é assim tão necessário? Quem determinou o que cada indivíduo realmente precisa acertar para ser notado, ser o "bem sucedido"? Você realmente deseja estar onde essas pessoas estão, ansiosas pelo brilho do próprio narciso?
As pessoas correm contra o tempo, buscam a própria satisfação na ótica suja da aceitação social. Passeiam, compram produtos obsoletos porque precisam da sensação de poder ou até mesmo da inveja do próximo para sentirem-se satisfeitos, aprendem a ganhar dinheiro e repetem informações e instruções robotizadas, vendendo sonhos, vendendo música, vendendo bem estar, vendendo a falsa beleza que é exagerada e utilizada muitas vezes como uma camuflagem para uma profunda dor, vendendo conhecimento e esquecendo de realmente ensinar.
As pessoas comem sem necessidade de comer, devido a imensa ansiedade que sentem em viver nesse gigantesco emaranhado de mentiras. Elas rezam sem acreditar e são criticadas quando não o fazem, vivem relacionamentos líquidos objetivando visibilidade por fazer parte de um determinado meio e criam a tecnologia e a globalização afim de amenizar as atividades da vida humana, porém agora elas conhecem tanto sobre um apunhalado de técnicas e não sabem nada sobre como olhar pra dentro de si, sobre como serem realmente humanas. E o pior é que ninguém ousa voltar atrás.
É isso que você quer escolher?
Você não precisa ter medo de assumir que aquilo que pensou que fosse, realmente não era o sentido da vida. Você não é uma pedra e não deve fingir que é.
Seja lento, seja rápido. Tenha força, chore muito. Desacredite de tudo e volte a acreditar logo em seguida. Dê valor aos seus erros, aos seus tropeços. Isso não é motivo para deixar de seguir o seu caminho. Esse caminho, mais do que próspero, bonito e cheio de sentimentos bons, é o seu caminho e só você pode entendê-lo e trilhá-lo.

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21 de janeiro de 2020

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As pedras choram sozinhas

Desculpa se agora eu desagrado e desfaço os meus nós que eram antes tão firmes. Desculpe se a minha voz alta agora está rouca porque cansou de gritar. Desculpe se o segredo não é mais segredo porque eu contei. Desculpe se a mágoa não é pouca e se até mesmo a música parou e o violão ficou esquecido, pendurado na parede. 
Agora eu vejo esse retrato torto e percebo o quão era grande o meu encanto por aquilo que só eu senti. Relembro todos aqueles dias em que a alegria imperou no meu tom e no meu riso afrouxado e sem pretensão, quando pensava que todos os "nãos" poderiam ser alterados e o mundo inteiro por fim ficaria mais feliz. Mal sabia eu que na maioria das vezes não é bem assim.
Sei que nunca é pra sempre e que, como dizia Raul, a chuva voltando para a terra, trás coisas do ar e as pedras choram sozinhas permanecendo no momento lugar. Sei que um dia aprenderei a não ter medo da chuva, medo da vida e medo daquilo que desconheço. Pode ser que dê tudo certo e que a água volte a correr rio abaixo, que as árvores floresçam e que o guarda chuva permaneça fechado. Até isso acontecer, ela vai seguir, sempre em frente, porque embora tenha todo o tempo do mundo, até o "pra sempre", sempre acaba. 


Quando penso em alguém, só penso em você. Aí, então, estamos bem. 
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20 de janeiro de 2020

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Pertencer-se

Ela pensou ser capaz de alcançar aquilo que estava além da margem do horizonte que pela janela conseguia enxergar. Ela pensou que nunca se sentiria entre amarras e sombras, dentro de uma caverna. Ela pensou que poderia fazer piada, mas no início ela não acreditou que a piada poderia ser ela e que ao sumir o mundo enfim poderia descansar. 
Ela acreditava ser capaz de ganhar qualquer jogo que lhe mostrassem, ganhando todas as peças do tabuleiro. Pensou que poderia transformar qualquer coisa em arte e defender-se até mesmo do que for raivoso e indomável, semelhante ao que Alexandre fez com seu Bucéfalo ao dominá-lo. Ela pensou que teria os mesmos cachos dourados e que seria uma grande guerreira. Ela pensou que estava pronta pra ser alguém que está sempre pronto a lutar.
A menina pensou que precisava ter sempre a melhor armadura e a melhor espada. Ela pensou que deveria tentar sempre ser maior que o mundo e que somente conquistando tudo poderia se encontrar. 
Talvez seja necessário recuperar a consciência e reunir todas as peças perdidas em uma gaveta. Talvez seja necessário limpar as teias e o pó daquilo que ainda restou de si mesma dentro dela, pondo-se a sua própria disposição. É necessário sacudir-se ao vento e correr solta como as crianças correm no gramado. É necessário dar-se um tempo e uma segunda chance de se reconquistar. 
Menina, corra! Corra como se não houvesse amanhã e como se não houvesse nenhuma voz que pudesse lhe comandar. Corra, sem medo de arriscar, sem medo de tentar entender a si mesma, sem medo de mudar. Não haverá prêmio para quem cruzar a linha de chegada depois de um trajeto sem percalços e chegar em primeiro lugar. Não há segunda chance, nenhum olhar de aprovação vai substituir a alegria de pertencer-se. 
Os sinos ainda vão tocar. Eles vão anunciar que o fim chegou e, quando isso acontecer, não poderemos voltar atrás. Um dia tudo se transformará em poeira. Um dia as estrelas vão parar de brilhar nos olhos dela e o jogo vai acabar. 

Quem sabe, um dia ela aprende a cantar, a gritar sem sentir dor, a correr sem olhar para trás e, principalmente, a voar sem cair.


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