5 de setembro de 2018

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Partigiano


Os pássaros voam dentro de uma redoma de vidro sem saber que estão dentro dela. Eles batem asas ao voo livre, voam em direção ao céu, crendo que são livres. Pobres animais, bateram o corpo no vidro que os cerca, tontearam e, por fim, foram jogados em queda livre na direção do chão.
Um peixe tenta escalar um árvore, um macaco pensa que pode e deve mergulhar. As flores tentam se manter firmes mesmo no outono, os girassóis deixam de acompanhar o sol, na expectativa de agradarem a formosa noite.

A menina caminha, sem saber em qual direção. O bosque está fechado, as luzes apagadas. Onde está a luz dos seus olhos? O que levou aquele brilho embora? O mundo as vezes parece que mudou de cor. 
O tempo continua nublado, como na grande maioria das vezes, porém não há mais aquele vento morno, anunciando tempestades, ainda que exista, em raras situações, uma garoa fraca. A menina continua o seu caminho, indo e voltando de lugares, observando os carros, as crianças, os animais de estimação. De vez em quando, os carros parecem não comportarem pessoas dentro dele, parecem apenas mais um objeto, mais um item descartável. As crianças, quanto mais menores, mais salvas parecem: são inocentes, brincam, andam de mãos dadas com o seu guardião, não reconhecem a preocupação de aparecerem, interagirem e serem notadas no mundo que as cerca e não entendem e dessa forma também não participam, da fluidez com que as coisas são criadas, desmanchadas e recriadas novamente no ambiente onde estão. 
A menina pretende nunca desmoronar, nunca deixar de acreditar em um novo amanhã, nunca deixar de tentar novamente, por mais que se sinta, frequentemente, dentro de um aquário, nadando ano após ano no mesmo local enquanto busca por alguma novidade, o que faz com que perca, por muitas vezes, a sua força.
No fundo, ela sabe que tudo sempre passa e o mais importante é permanecer de mãos dadas com o seu heroi, que a protege dela mesma e tem paciência suficiente para esperar por um novo amanhã.

Será ela, ao lado dele e de mãos dadas, a resistência ao mundo que lhe arranca o brilho dos olhos. 
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