26 de janeiro de 2016

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Essas grandes alturas


Imagem para a postagem "Essas grandes alturas" do blog Amor e Oxigênio
E aquele brilho está de volta, agora nós conseguimos sentir isso. O silêncio ecoa nos nossos corações e a cada batida a dor se vai. Estamos de volta, mantenha a sua mão com a minha, rodaremos mais uma volta com o mundo. Sente ao meu lado, veja o trem passar, sinta o sopro dele nos seus cabelos. Ah, sinta cada gota da chuva que chegou para mostrar as possibilidades que ganhamos ao refazer os bons momentos.
Esteja comigo por quanto tempo achar que pode, ainda que eu insista em não partir jamais, ainda que eu continue entregue ao seu abraço. Ouça as cordas desafinadas daquele violão velho e empoeirado. Teremos décadas para tomar um café e rir dos trocadilhos da vida. Os violinos tocarão aquela minha música favorita e nós entraremos no ritmo deles.
Num outro dia qualquer, nós observaremos o nascer do sol e leremos um livro juntos. Ache meus olhos e olhe no fundo deles, estarei aqui por um século. Estarei por um século ao seu lado. Faça um pedido, plante uma árvore e escreva os nossos nomes no tronco dela. Sinta a brisa suave daquela manhã tão cinza que já não incomoda mais.
 É muito importante, agora. A forma como eu não quero perder nada, o desejo que eu tenho de nunca acordar, o meu comportamento, por vezes, pouco sutil, a maneira como eu espero o "para sempre", a necessidade de um milhão de anos, a segurança daquele abraço, a minha certeza em confiar. É imprescindível, é maior que todas as ondas e todos os focos de luz que dariam esperança no final do breu. Eu preciso aprender a expressar o quanto isso faz diferença em todo o resto. O quanto eu sinto que estou em um só caminho e o quanto quero que ele seja seguro.
Jogue um jogo comigo, me lembre de como o céu é azul. Me encontre no final da rua, apenas corra comigo e me deixe fazer da vida um sonho real. E no final, lembre-se do início. Aguardei aquele brilho da mesma forma como aguardamos ansiosos pelo momento em que veremos as estrelas cadentes no céu. Aguardei incessantemente e sabia que, quando encontrasse, seria como encontrar um tesouro escondido.

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17 de janeiro de 2016

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Horizonte

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Naquele dia estava chovendo e ela não queria sair, porém já havia se ausentado na manhã anterior. Naquele dia as poças d'água refletiam a os galhos das árvores recém apresentadas à primavera. Naquele dia os guarda chuvas pareciam dançar. Naquele dia as pessoas dançavam e eles, que não dançavam, entraram na brincadeira também. E toda a brincadeira, até onde se ouve falar, tem um profundo apego nas nossas verdades.
As vezes uma manhã chuvosa não significa um dia triste. Aliás, um caminho escuro, com tropeços e derrotas é vivenciado por todos nós, pelo menos uma vez na vida e sempre de maneiras diferentes porque, claro, somos diferentes. Muitas vezes, numa manhã chuvosa, tomamos o melhor café do mundo, que pode ser o café da cafeteria mais famosa da região e também pode ser aquele que você ou alguém que você gosta preparou. Muitas vezes, numa manhã chuvosa, nos unimos com vários outros passantes desconhecidos entre os beirais da cidade. As vezes um desses passantes pode deixar de ser somente mais um desconhecido.
 E todo mundo deve ter o direito de tentar algo novo. Todos devem, ao menos uma vez, se sujeitar a algo inesperado, visto que esse inesperado pode ser bom. E as pessoas devem se harmonizar com aquelas que lhes fazem bem e devem, por óbvio, cultivar o que, igualmente, lhes trazer a paz.
Quem sabe, é assim que acontece o início dos melhores finais felizes. Quem sabe, assim virão as nossas grandes memórias, que um dia se tornarão infinitas.

Todas as pessoas solitárias
A que lugar todas elas pertencem?
(Beatles)
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14 de janeiro de 2016

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Valeu

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E no fim o vento leva. Leva devagarinho, como as folhas de outono são arrastadas pela calçada, como as pessoas se esquecem das melhores memórias. E não é tão diferente de tentar retomar o que éramos antes.
Acontece que não estamos preparados para reconhecer o quão bom ou ruim algo pode ser. Não estamos sempre prontos para um novo dia repleto de novidades e atenção redobrada aos mais novos conhecidos. Nós nunca saberemos onde se inicia o afeto, a amizade, o amor. Nós nunca saberemos onde isso acaba ou quando e exatamente por quais razões acaba.
Nós não estaremos prontos nunca, mas os novos ventos sempre irão soprar. Não teremos, de fato, entendimento sobre todas as coisas e sobre os motivos de estarmos onde estamos, mas é certo que caminhamos para algum lugar além do fim incessante e incurável. Aliás, precisamos da certeza de quem somos quando estamos sem rédeas e sem leis. Precisamos da confiança nos nossos instintos e na veracidade daquilo que achamos ser e ter nos tornado durante tanto tempo.
E o sol brilha de novo no fundo dos olhos dela. Brilha como se brilhassem pela primeira vez e reflete o silêncio mais puro e genuíno que ela pôde encontrar. É, não se tem certeza, mas quem nos obriga a ter? A calma nos guia agora, e ela é melhor que o desespero, a pena e a comoção. Calma. Viveremos tudo o que quisermos viver, mas por razões que não se explicam de antemão, a serenidade e o equilíbrio nos darão a dose certa para cada cruzar de olhares. Existe uma árvore gigante, mas ela recém brotou.
Estou convicta dos meus medos, mas não do afeto que ainda restou. Tenho consciência de que sinto falta da imensidão de todo aquele apreço de outrora, mas não espero um retorno. Estou convencida da minha incorruptível ânsia por muito mais, em caminhos novos. Vou fechar um novo ciclo, e sei que no fim ficarei em paz. Não podemos nos esquecer que sim, tudo vale a pena. Porque todo o coração é burro, mas o meu é mais.

 E a chuva parou.
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13 de janeiro de 2016

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Zero

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E a menina voltou a aparecer. Voltou porque algo a chamou aqui. 
O dia amanheceu calmo, a rede balançava, os pássaros voavam de seus ninhos em busca de comida e, lentamente, a pequena menina despertava. Ela abriu os olhos, estes, por sua vez, claros como a luz que vinha da janela. O vento a chamava para longe. Ela se aprontou e saiu.
As pessoas, naquela imensidão espantosa, não estavam dispostas a conversar e nem mesmo a cumprimentar a menina e os outros passantes. A verdade é que todos viviam em mundo privado e egoísta onde se achavam portadores da melhor personalidade e do melhor talento além de, claro, serem o próprio sol desse mundo imaginário. A pequena continuou a andar, insistindo a atravessar vielas e a pular por cima das poças enlameadas daquele chão irregular.
Sem perceber, ela acabou perfurando a bolha na qual vivia e, inimaginavelmente, a felicidade se estampou em seu olhar. Desde quando se sentia a vontade para cruzar a avenida de cabeça erguida? Desde quando ela começou a ter essa ânsia por espalhar vozes, e gostos, e sentimentos por aí? Sim, a menina já não era a mesma e não sabia explicar quando foi que os novos ares chegaram.
Finalmente a pequena observou que não haviam mais lágrimas para serem derramadas, pois já não havia motivo para tanto. Olhando para frente e acabando com a irrealidade dos fatos, ela pôde entender que não se pode controlar uma vida inteira e nem mesmo passar panos quentes nas palavras que desejamos nunca termos pronunciado. Ela descobriu que ainda tinha um coração e não precisou olhar nos olhos de ninguém para constatar esse feito. Descobriu também o quão nobre um sentimento pode ser. Entendeu que não existem coisas que tramem a favor ou contra o que sentimos. Tudo o que sentimos nos domina e lentamente passa a existir, com a mesma eficácia de um pássaro que constrói seu ninho para se abrigar do inverno próximo.
Os sentimentos pulsam e simplesmente não precisamos de um líder, de influência, de talento. Tudo o que precisamos é de coragem para admitir que temos conosco algo de tamanha intensidade.
O tempo que algo assim dura? Uma vida. Uma vida bem vivida.
Zero sim. Começamos outra vez, assim como um dia novo começa a cada amanhecer.
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