29 de junho de 2022

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Cada estrela parecerá uma lágrima

O vento lá fora ainda é forte, a chuva ainda é densa e gelada. A iluminação, já pouca, torna-se mais prejudicada por causa dos postes que piscam sem parar, como se neles houvesse uma espécie de ritmo, que acompanhasse a rapidez com a qual os passantes tentam abandonar a estrada e enfim encontrar o abrigo quente e confortável de suas casas.
A menina está entre eles, andando rapidamente, tentando demonstrar confiança enquanto permanece voltada com o olhar para frente, embora suas linhas de expressão na testa sempre deixem em evidência a grande dúvida que paira em sua mente. No fundo, ela teme ser a única que se sente assim.
Pode ser perigoso andar nessa estrada quando o vento é forte e mais perigoso ainda seria se demorar nesse mesmo caminho quando não há mais certeza sobre quantos estão do seu lado ou quantos vibram com o tropeço nas pedras da rua mal iluminada. Ainda assim, a pequena menina segue, pois percebe que entre as diferentes rotas possíveis, a atual parece a mais certeira, embora se apresente como a mais demorada, a mais duvidosa e, muitas vezes, como a mais solitária e triste das caminhadas.
É difícil precisar superar diariamente a falta. É difícil controlar o peso que é possível colocar em si mesmo, ainda mais quando sempre parece ser necessário carregar mais e mais. É triste finalmente compreender que por mais que as rosas e os girassóis e as lavandas e os lírios sejam bonitos, eles se tornam de pouca utilidade quando tem suas raizes arrancadas do solo. É infinitamente doloroso perceber que a música que mais declara também é aquela provavelmente menos vai ser, sem rodeios, dedicada a alguém. Eros e Tânatos confundiram as suas flechas e até hoje isso dói.
A menina espera que o caminho, embora gelado, se torne certeiro e que o fim, ainda que longe, seja doce e sincero, como o início do anoitecer na primavera, quando a melancolia é menos frustrante e o café com um bom livro podem ser seus fiéis companheiros. Ela continua com a dúvida clara em seu olhar e nítida em sua testa, enquanto observa o destino de algumas pessoas passando por ela. Todos continuam a andar, mesmo sem garantias, mesmo sem saber quanto tempo vai levar.

"Sei que ninguém vai perdoar
Nem mesmo há o que perdoar
É mesmo assim"…


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