10 de agosto de 2020

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Pequeno texto sobre o "encontrar-se"

Lá fora eu vejo pessoas seguindo o seu caminho, encontrando seus pares, procurando uma nova fantasia para ocuparem a mente em seus poderosos aparelhos celulares. As tardes seguem vazias no centro da cidade, sem brilho, sem sorrisos e sem aquelas conversas sinceras que expõem a imensidão existente dentro de cada um. 
As pessoas fingem estarem sozinhas em todos os ambientes, mesmo rodeadas de pessoas. Isso acontece porque assim torna-se fácil passar por cima do medo da comparação, da estigmatização, da vergonha da própria subestimação que conflitua dentro de cada um com o medo de arriscar, travando os músculos, trazendo a impossibilidade de se ir longe, de engatinhar, de simplesmente admitir que toda decisão acarreta um começo. As pessoas tem medo de serem pequenas demais para esse mundo que parece tão grande, mas que pode ser extremamente menor e incrivelmente comum àquilo que cada um tem medo de demonstrar.
Nós seguimos distantes, mesmo sem razões para sofrer, mesmo com uma mão amiga, já cansada, estendida em nossa direção. Procuramos no céu a imensidão que não somos capazes de encontrar em nosso próximo, procuramos a força que as vezes pensamos não haver na beleza de sentir, na beleza de simplesmente prosseguir e deixar o coração bater mais forte. 
Um dia não teremos medo de nos cegarmos com o nascer do sol em nossa fronte, um dia os pássaros estarão mais perto e sentiremos a brisa suave em nossos cabelos. Um dia a utopia tornar-se-á realidade e sentiremos o carinho que estamos, a cada novo amanhecer, preparando a nós mesmos. Será como um agradecimento pelo prosseguimento, pela coragem, insistência e, acima de tudo, pela certeza de amar cada milímetro do que se é. 

Não desista de se encontrar. 

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13 de abril de 2020

Humano anatomicamente e sentimentalmente fraco

É como se a menina fosse uma viajante no tempo de um ano bem antes que o ano passado e agora estivesse na janela do ônibus espacial vendo o quanto o presente mudou enquanto ela não estava lá. Pra ela parece que o brilho acabou muito antes e nada do que houve desde então fez algum sentido, como se o tempo estivesse congelado e a vida passasse com ela parada, na espera do momento certo para pular para o estágio favorito. 
As estrelas brilharam durante todas aquelas noites calmas e a chuva voltou a cair centenas de vezes. O alvo foi acertado e a nota mais alcançada no final. A história acabou, a menina releu e até decorou e no final nada parece ter feito nenhum sentido. 
É como se tudo fugisse lá no início para uma realidade paralela em que ela não pôde estar de verdade, como se o caos tomasse conta de todas as boas lembranças e infelizmente só os insultos fossem absorvidos. 
Lá no alto há algo estranho voltando. Lá no alto, um pontinho azul. Um capacete de astronauta. Uma música calma. Um sono profundo desperto. Lá no alto, quem sabe de um jeito menos fraco, quem sabe com um propósito genuíno e até altruísta. Lá do alto desce ela para o chão. É a realidade. Ninguém está salvo. Ninguém está salvo e já passou da hora de encontrar a própria órbita e voltar. 

Somos todos modernos humanos anatomicamente e sentimentalmente fracos. 
Todos e, embora diferentes, não somos melhores e nem piores uns que os outros. Respeite quem você é, sem comparações, seja fiel a si mesmo. 
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31 de março de 2020

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A contra-mão pode ser o melhor caminho

É difícil acertar na primeira escolha, é quase impossível tocar o céu no primeiro passo e, mais complicado do que tudo isso, na grande maioria das vezes, é aceitar que não se está no topo do pódio dentro do período previsto.
A vida é feita de andar e andar e nem sempre isso significa caminhar em linha reta, sem cair aqui e ali, sem parar no meio da jornada, sem olhar para trás e criar um grande círculo e, caso este for o objetivo, pode ser que nem sempre a vida seja cíclica também.
Tudo é sobre errar. Isso mesmo! Todas as pequenas partes que compõem o que se é de verdade, somente fazem parte do todo que se é porque foram repetidas, lembradas mais uma vez, porque lá no início saíram erradas e houve a necessidade da repetição por uma, duas, três vezes até que o acorde enfim soasse bem, mas então, no momento de tocar a música, o ritmo resolveu não se adequar. Dessa forma, lá se foram mais incontáveis tentativas, até atingir o êxito tão aguardado. Ou não.
Quem disse que esse acerto aguardado por tantos é assim tão necessário? Quem determinou o que cada indivíduo realmente precisa acertar para ser notado, ser o "bem sucedido"? Você realmente deseja estar onde essas pessoas estão, ansiosas pelo brilho do próprio narciso?
As pessoas correm contra o tempo, buscam a própria satisfação na ótica suja da aceitação social. Passeiam, compram produtos obsoletos porque precisam da sensação de poder ou até mesmo da inveja do próximo para sentirem-se satisfeitos, aprendem a ganhar dinheiro e repetem informações e instruções robotizadas, vendendo sonhos, vendendo música, vendendo bem estar, vendendo a falsa beleza que é exagerada e utilizada muitas vezes como uma camuflagem para uma profunda dor, vendendo conhecimento e esquecendo de realmente ensinar.
As pessoas comem sem necessidade de comer, devido a imensa ansiedade que sentem em viver nesse gigantesco emaranhado de mentiras. Elas rezam sem acreditar e são criticadas quando não o fazem, vivem relacionamentos líquidos objetivando visibilidade por fazer parte de um determinado meio e criam a tecnologia e a globalização afim de amenizar as atividades da vida humana, porém agora elas conhecem tanto sobre um apunhalado de técnicas e não sabem nada sobre como olhar pra dentro de si, sobre como serem realmente humanas. E o pior é que ninguém ousa voltar atrás.
É isso que você quer escolher?
Você não precisa ter medo de assumir que aquilo que pensou que fosse, realmente não era o sentido da vida. Você não é uma pedra e não deve fingir que é.
Seja lento, seja rápido. Tenha força, chore muito. Desacredite de tudo e volte a acreditar logo em seguida. Dê valor aos seus erros, aos seus tropeços. Isso não é motivo para deixar de seguir o seu caminho. Esse caminho, mais do que próspero, bonito e cheio de sentimentos bons, é o seu caminho e só você pode entendê-lo e trilhá-lo.

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21 de janeiro de 2020

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As pedras choram sozinhas

Desculpa se agora eu desagrado e desfaço os meus nós que eram antes tão firmes. Desculpe se a minha voz alta agora está rouca porque cansou de gritar. Desculpe se o segredo não é mais segredo porque eu contei. Desculpe se a mágoa não é pouca e se até mesmo a música parou e o violão ficou esquecido, pendurado na parede. 
Agora eu vejo esse retrato torto e percebo o quão era grande o meu encanto por aquilo que só eu senti. Relembro todos aqueles dias em que a alegria imperou no meu tom e no meu riso afrouxado e sem pretensão, quando pensava que todos os "nãos" poderiam ser alterados e o mundo inteiro por fim ficaria mais feliz. Mal sabia eu que na maioria das vezes não é bem assim.
Sei que nunca é pra sempre e que, como dizia Raul, a chuva voltando para a terra, trás coisas do ar e as pedras choram sozinhas permanecendo no momento lugar. Sei que um dia aprenderei a não ter medo da chuva, medo da vida e medo daquilo que desconheço. Pode ser que dê tudo certo e que a água volte a correr rio abaixo, que as árvores floresçam e que o guarda chuva permaneça fechado. Até isso acontecer, ela vai seguir, sempre em frente, porque embora tenha todo o tempo do mundo, até o "pra sempre", sempre acaba. 


Quando penso em alguém, só penso em você. Aí, então, estamos bem. 
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20 de janeiro de 2020

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Pertencer-se

Ela pensou ser capaz de alcançar aquilo que estava além da margem do horizonte que pela janela conseguia enxergar. Ela pensou que nunca se sentiria entre amarras e sombras, dentro de uma caverna. Ela pensou que poderia fazer piada, mas no início ela não acreditou que a piada poderia ser ela e que ao sumir o mundo enfim poderia descansar. 
Ela acreditava ser capaz de ganhar qualquer jogo que lhe mostrassem, ganhando todas as peças do tabuleiro. Pensou que poderia transformar qualquer coisa em arte e defender-se até mesmo do que for raivoso e indomável, semelhante ao que Alexandre fez com seu Bucéfalo ao dominá-lo. Ela pensou que teria os mesmos cachos dourados e que seria uma grande guerreira. Ela pensou que estava pronta pra ser alguém que está sempre pronto a lutar.
A menina pensou que precisava ter sempre a melhor armadura e a melhor espada. Ela pensou que deveria tentar sempre ser maior que o mundo e que somente conquistando tudo poderia se encontrar. 
Talvez seja necessário recuperar a consciência e reunir todas as peças perdidas em uma gaveta. Talvez seja necessário limpar as teias e o pó daquilo que ainda restou de si mesma dentro dela, pondo-se a sua própria disposição. É necessário sacudir-se ao vento e correr solta como as crianças correm no gramado. É necessário dar-se um tempo e uma segunda chance de se reconquistar. 
Menina, corra! Corra como se não houvesse amanhã e como se não houvesse nenhuma voz que pudesse lhe comandar. Corra, sem medo de arriscar, sem medo de tentar entender a si mesma, sem medo de mudar. Não haverá prêmio para quem cruzar a linha de chegada depois de um trajeto sem percalços e chegar em primeiro lugar. Não há segunda chance, nenhum olhar de aprovação vai substituir a alegria de pertencer-se. 
Os sinos ainda vão tocar. Eles vão anunciar que o fim chegou e, quando isso acontecer, não poderemos voltar atrás. Um dia tudo se transformará em poeira. Um dia as estrelas vão parar de brilhar nos olhos dela e o jogo vai acabar. 

Quem sabe, um dia ela aprende a cantar, a gritar sem sentir dor, a correr sem olhar para trás e, principalmente, a voar sem cair.


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18 de novembro de 2019

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Pedra no sapato

Não chove já faz um certo tempo. O dia agora é sempre quente e a noite segue agoniante, entre cobertas enroladas e uma cabeça que sempre pesa mais que o corpo inteiro. 
Ela deixou de sair e de ouvir os pássaros cantarem naquele mesmo tom que ouvia em sua infância. Ela já não sabe distinguir quando pensa por si ou quando alguém está ali falando por ela, fazendo-a acreditar que tudo é mesmo sempre assim. A menina já não sabe cuidar das flores. A menina já não sabe ver o mundo com o olhar de antes. Ela não sabe nem o que, afinal, havia naquele lugar em épocas passadas e nem ousa se lembrar do que costumava cantar quando nada era tão complicado assim. 
Quando o dia amanhecer ela vai se sentir mal, mas vai tentar outra vez. Quando o dia amanhecer, ela vai sentir o ar quente em seu rosto e o sol vai lhe queimar novamente. Ela não desejará sair. Quando o dia amanhecer, ela tentará não ser Sísifo carregando a mesma pedra em um ciclo sem fim. Por fim, quando o dia amanhecer, ela escutará desonestidades e falsos julgamentos sobre ela e, como costumava agir em outra época, somente se calará e fará mais uma vez suas obrigações. Ela é uma pessoa normal, nada ali é especial, mas ela também não é, de fato, menor que ninguém. 
Paredes de gelo, construídas em cima de outro solo, mantidas com o mesmo alicerce e acabadas com crueldade e cinismo. Ninguém sabe de nada, ninguém é maior que ninguém em lugar nenhum, mas todo mundo pensa ser sempre bom, sempre o único que foi injustiçado e merece mais direitos e possui menos culpa. 
Todos nós sentimos, todos nós vamos crescer, todo mundo um dia aprende, ela não é menos do que você e o que ela faz, sozinha, sem ajuda de ninguém, não tem nada de mal, todo mundo também pode fazer. Não é sobre certo e errado, não é sobre merecimento e privilégios, não é sobre evoluir. 
Tudo, no fim, é sobre respeitar, porque todo mundo vai sentir. 

Algumas palavras que ouvimos são como uma pedra no sapato que a gente não pode parar para tirar e segue doendo. A gente pensa que pode suportar e que vai até esquecer se continuar, mas na realidade não vai e aquilo machucará cada vez mais.
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30 de setembro de 2019

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O homem é o lobo do homem

As vezes eu não quero nada. Ou será que as vezes a gente, nós todos, não queremos nada? As vezes tudo pareceria melhor dentro de um barquinho perdido no meio do mar. As vezes a música favorita não compensa o mau dia, as vezes os pássaros cantando não podem ser notados. As vezes a gente queria poder ter o mundo nas mãos, porém em outras vezes o mundo parece pesar muito mais do que aquilo que a gente pensa poder carregar. Será mesmo que a gente só tem aquilo que merece e devemos ser gratos por tudo isso?
      O que você faz quando passa por um animal doente ou por uma pessoa perdida nas ruas? O animal é mesmo mais doente que você e por isso não merece mais a atenção de ninguém, porque simplesmente nada adiantaria? Aquela pessoa, ela é pior que você? Por que? O que você pensa que é senão um pontinho, um grão de areia, uma gota d'água no meio de um infinito que você nunca vai conhecer? Nós não somos nada, nós não podemos tudo e nunca teremos tudo. A sua dor não é maior que a dor do seu próximo.
      Nós estamos acostumados a andar em nossas construções, a pensar o quão grande somos e nos sentirmos plenos em nosso castelo de cristal. Todos nós somos assim, eu, você e aquele outro que você inveja porque o diamante dele é maior que o seu. Não é somente você que pensa que é bom em algo, que pensa que sabe tanto e que pode tudo e que nada deve a ninguém. Todos nós devemos algo, se não a alguém, a nós mesmos.
      É no mínimo engraçado quando os cristais começam a rachar e notamos que nada passa de um simples vidro brilhante. A gente espera comoção, a gente espera compreensão. Queremos que nos notem e que nos acariciem e nos aninhem como bebês porque aquilo que a gente pensou que era e pensou que poderia ser de repente não deu certo. A gente se esquece que devemos continuar por nós mesmos e que ninguém é responsável pelas nossas próprias escolhas e pelos nossos próprios erros. As pernas são nossas, o remo daquele barquinho perdido no meio do mar é nosso também, por isso, agarre-o e sempre, mesmo sozinho, siga em frente. Pode ser que a luz não esteja presente lá no fim do túnel, mas ela seja tudo aquilo que você aprenderá no caminho. 


Somos o pior inimigo de nós mesmos. 

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22 de agosto de 2019

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Segurando o mundo sobre si


Está escuro lá fora, chove tão forte e não há nenhuma estrela no céu. Os buracos do asfalto atrapalham os carros que passam, enquanto os cães abandonados bebem da água da chuva que nesses buracos se acumulou. Não há como se proteger do caos, somente se pode passar por cima dele de cabeça erguida.
A menina tem onde repousar, tem as flores que sempre sonhou e pode dar continuidade ao seu final feliz. Contudo, há uma enorme rocha mista de indecisão, medos e auto repressão nas costas da menina, como se ela fosse o Atlas e precisasse segurar o mundo todo sobre si. Frequentemente ela tenta prosseguir, erguendo a cabeça e deixando a chuva molhar os seus olhos de vidro, porém toda a luta parece ser inútil, como se estivesse forçadamente contida em um labirinto e desejasse voar até o sol, mas tivesse medo de acabar como Ícaro acabou. Tudo parece ser feito para sustentar o não pensar, o não agir, o não ser.
A menina não precisa de mais uma flor e nem mesmo precisa de algo novo que a tire de onde está.  O círculo vicioso de erros e desistências é algo que somente ela pode controlar, deixando de procurar o conforto depois de alguma frustração e decidindo buscar voar sempre mais alto, ir sempre com mais força, e sendo, sem receio algum, aquilo que ela realmente é. Tocar o sol as vezes pode ser melhor do que ficar no chão. Olhar para a terra através do céu, estando mergulhada nas nuvens, as vezes pode ser bom, ao contrário do que dizia Aristófanes.
Olhando para si, no mesmo velho espelho empoeirado, a menina tenta, constantemente, recuperar as suas forças e ser fiel aos seus princípios, buscando entender quem ela é, buscando se possuir, para quem sabe, poder finalmente abandonar a angustia por algo maior que ela sente em seu peito e então realmente ser pessoa, se dispor.

Somos apenas duas almas perdidas, ano após ano percorrendo este mesmo velho chão.
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De mãos dadas

Nesta manhã a menina acordou com pressa. Não teve tempo para abrir a janela e olhar o nascer do sol e nem mesmo para esquentar o seu café puro de toda a manhã. Ela se arrumou, colocou seu casaco, passou o seu perfume barato e saiu. A menina aproveitou o percurso que deveria percorrer até chegar ao seu destino para refletir sobre tudo o que acontecera com ela nos últimos tempos. Às vezes ela sente como se o cérebro dela fosse um novelo de lã emaranhado, cheio de nós que ela tenta desfazer e, para isso, ela precisou ter coragem. Dessa forma, a menina recomeçou a tecer a sua vida através da experiência adquirida anteriormente. Ela aprendeu a atar e desatar nós com mais força e sem medo de romper a linha se for necessário. Ela continuava a andar muito rapidamente, a passos largos e com o cachecol voando com o vento gelado daquele dia. A menina sentia-se feliz com o recomeço, porém indubitavelmente carregava consigo a certeza de que não teria coragem de recomeçar, tomar uma posição diante de sua vida e ser feliz consigo mesma se não estivesse com alguém em seu coração. 
Ele esteve com a pequena menina em todos os momentos, bons ou não. Ele a abraçou e segurou a sua mão durante as incertezas e sorriu com ela quando o final foi bom. Quando ela recomeçou, ele observou o desenrolar do novelo de lã e ajudou ela a segurar todos os fios para pô-los no lugar certo. A menina vem aprendendo a enxergar os momentos em que ele lhe deu a mão e olhou com seus olhos profundos e indagadores no fundo dos olhos melancólicos e distantes dela, dizendo que todas as coisas cooperam para o bem. Ele esteve com ela quando ela precisou de um abraço apertado. Ele esteve com ela quando ela chorou achando que o mundo todo iria desabar. Ele é, muitas vezes, o refúgio dela e ela possui imensa gratidão por isso. 
Chegando ao seu destino, a menina relembrou do quanto precisa agradecer pelos bons momentos compartilhados. Ela precisa agradecer pelo quanto aprenderam juntos enquanto liam sobre as definições do que é o amor na filosofia e de como aprenderam o quanto são andrógenos e que por serem andrógenos o amor as vezes dói pela distância ou por algum destemperamento. Ela precisa agradecer pelos bons momentos ouvindo e aprendendo a cantar as músicas que ela mais ama ao lado dele. Ela precisa agradecer pelo quanto sonharam e sonham juntos a até mesmo pelo quanto amam ou detestam juntos, mesmo sem admitir e muitas vezes sem deixar transparecer aos demais, exatamente as mesmas coisas. 

É certo de que não será passageiro. Juntos, eles percorrerão os caminhos da vida, sendo abrigo e proteção um do outro em meio a esse mundo de caos.
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28 de outubro de 2018

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Resiliência

Continue. Continue com todas as dores e mágoas e apertos bem fortes no peito. Continue apesar da vontade de sair correndo, de pular, de enfim voltar antes mesmo de ir embora. Continue enquanto a chuva indecisa ainda não vem. Continue apesar dos ventos fortes. Continue, mesmo sentindo o peso do esquecimento obrigatório nas costas. 
Continue mesmo com o medo de não saber em que ponto se deve voltar para recomeçar. Continue a partir da linha torta, não faz mal. Continue mesmo que não houver ninguém para lhe abraçar e lhe erguer se você cair. Continue mesmo com as mãos fracas e os olhos embaçados.
Continue mesmo querendo cantar enquanto lhe dizem que a sua voz não é boa. Continue enquanto você desenha traços errados de um corpo que na sua imaginação é perfeito. Continue caso o seu cabelo voe e permaneça bagunçado. Mude o cabelo ainda quando lhe disserem que ficará feio. Continue quando o esmalte preto estiver descascando nas unhas, isso significa que você não tem medo de se desajeitar enquanto se agarra ao mundo. Continue quando a estrada for íngreme demais para subir e seus joelhos parecerem não suportar. Continue quando a sua condição não estiver no padrão reconhecido socialmente. Continue quando as roupas naquela loja dos sonhos não couberem mais em você.
Continue quando a respiração estiver fraca, quando mais uma lágrima cair.
Continue e você montará o quebra cabeças de si mesmo, de queixo erguido.
E, continue, mesmo que você não faça ideia de como será o final da jornada.
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5 de setembro de 2018

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Partigiano


Os pássaros voam dentro de uma redoma de vidro sem saber que estão dentro dela. Eles batem asas ao voo livre, voam em direção ao céu, crendo que são livres. Pobres animais, bateram o corpo no vidro que os cerca, tontearam e, por fim, foram jogados em queda livre na direção do chão.
Um peixe tenta escalar um árvore, um macaco pensa que pode e deve mergulhar. As flores tentam se manter firmes mesmo no outono, os girassóis deixam de acompanhar o sol, na expectativa de agradarem a formosa noite.

A menina caminha, sem saber em qual direção. O bosque está fechado, as luzes apagadas. Onde está a luz dos seus olhos? O que levou aquele brilho embora? O mundo as vezes parece que mudou de cor. 
O tempo continua nublado, como na grande maioria das vezes, porém não há mais aquele vento morno, anunciando tempestades, ainda que exista, em raras situações, uma garoa fraca. A menina continua o seu caminho, indo e voltando de lugares, observando os carros, as crianças, os animais de estimação. De vez em quando, os carros parecem não comportarem pessoas dentro dele, parecem apenas mais um objeto, mais um item descartável. As crianças, quanto mais menores, mais salvas parecem: são inocentes, brincam, andam de mãos dadas com o seu guardião, não reconhecem a preocupação de aparecerem, interagirem e serem notadas no mundo que as cerca e não entendem e dessa forma também não participam, da fluidez com que as coisas são criadas, desmanchadas e recriadas novamente no ambiente onde estão. 
A menina pretende nunca desmoronar, nunca deixar de acreditar em um novo amanhã, nunca deixar de tentar novamente, por mais que se sinta, frequentemente, dentro de um aquário, nadando ano após ano no mesmo local enquanto busca por alguma novidade, o que faz com que perca, por muitas vezes, a sua força.
No fundo, ela sabe que tudo sempre passa e o mais importante é permanecer de mãos dadas com o seu heroi, que a protege dela mesma e tem paciência suficiente para esperar por um novo amanhã.

Será ela, ao lado dele e de mãos dadas, a resistência ao mundo que lhe arranca o brilho dos olhos. 
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18 de julho de 2018

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Aquele velho navio

Naquela manhã a chuva era fraca como essas manhãs de agora, o vento não era desses mornos, que antecedem tempestades, mas soprava em boas direções para quem ousasse navegar em um grande navio. Neste navio, a menina embarcou. 
De vez em quando as noites foram estreladas, cheias de brilho e novidade, com longas conversas e boas bebidas para a menina e o seu acompanhante, o general. Entretanto, algumas outras noites não puderam alegrar a todos, tendo lá as suas tempestades, que as vezes realmente faziam os marujos a bordo tremerem, mas em outras, as tempestades criadas pela própria menina, cabiam em um copo d’água e não assustavam ninguém além dela mesma.
Alguns dos momentos da vida da menina, ao lado de seu acompanhante naquele velho navio, foram os mais felizes que ela já viveu e mesmo que uma onda gigante os engolisse para dentro do mar e simplesmente levasse tudo embora para sempre, ela saberia que teria valido a pena. 
A bordo do navio, menina também pôde aprender que viagens longas, ainda mais realizadas a dois, merecem o máximo cuidado e o máximo de companheirismo e confiança, pois sozinhos somos incapazes de manter o navio inteiro, de segurar o leme e levantar as velas. Sozinho, aquele velho navio não se move e cada segundo sem o acompanhante é uma pausa no meio do mar, dentro de uma tempestade, sem bússola, mapa ou luz das estrelas e, assim, tudo deixaria de fazer sentido. 

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11 de julho de 2018

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Vinte e dois

Hoje a menina acordou em uma manhã chuvosa e cheia de afazeres para irromper com o silêncio da noite passada. Esse dia, apesar da chuva, apesar dos afazeres, apesar do barulho, é um dia especial. É o dia em que nasceu aquele brilho, o dia em que aqueles olhos abriram pela primeira vez e uma nova esperança e uma nova música surgiram. 
Nesse dia, a menina somente deseja poder sempre comemorar essa data tão especial ao lado dele, o seu amor, o seu herói. Com ele a menina renasceu, reaprendeu, enxergou novos motivos para sorrir, novos motivos para sonhar, para sentir. Com ele, a menina aprendeu e ensinou, viu e mostrou, ouviu uma nova história e tocou uma nova melodia. 
Obrigada, meu amigo, meu namorado, meu general cheio de anéis, por ser tão insubstituível em minha vida. Parabéns pelo seu aniversário, parabéns por continuar sempre em frente, com os olhos sempre brilhantes e a esperança sempre latente. Obrigada por dividir mais um dos teus anos comigo, anos estes em que sempre compartilhamos aprendizados, experiências, sonhos, e peço, claro, que permita sempre seguir em frente ao teu lado.

Porque quando a menina entendeu o que acontece quando se ama, ela notou que sem o amor nada sobrevive, muito menos ela. 
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26 de maio de 2018

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O despertar da força

Parece que, finalmente, a menina completou um ciclo daqueles ciclos que faziam parte dos seus sonhos para a posteridade. Um ano depois e tudo mudou, assim como as fases da lua mudam, assim como um livro muda parte daquilo que pensamos saber sobre o que somos e de onde viemos e assim como as árvores, que antes perdiam somente as folhas, podem agora também ser podadas e, por fim, voltarem a crescer. A menina relembrou que tudo pode passar e que todas as coisas são frágeis demais. Por conseguinte, ela ainda descobriu que algumas flores difíceis de cuidar nos são dadas por pessoas especiais e que merecem toda a nossa atenção. Além do mais, essas pessoas especiais cuidam mais da gente do que de qualquer flor. Há um ano atrás os olhos da pequena menina voltaram a brilhar, o coração voltou a acelerar e a força enfim se despertou. Há um ano atrás as chuvas se tornaram boas e fáceis de encarar, o sol ganhou mais vida, o sopro do vento fez-se mais descansado. Ele finalmente chegou. Ele chegou e trouxe a força com ele. Ele chegou e deu para a menina todo o seu coração e a menina deu todo o dela de volta. Ele chegou e permaneceu. Ele chegou e tornou-se o super herói da menina que nem merecia ter um herói particular. Ele tem os olhos mais brilhantes e complacentes do mundo. Ele tem o sorriso mais sincero que ela já viu e que faz a vida toda parecer mais leve. Ele tem as mãos mais seguras e mais afáveis e possui o calor mais confortante e mais protetor que a menina já sentiu. O seu herói é de carne e osso. Ele respira, ele é capaz de sentir, rir, chorar, se enraivecer, amar. A menina já sentiu vontade de colocá-lo em uma caixinha e nunca mais tirar os olhos dele. A menina já quis morrer envolta naquele abraço, pra que o mundo nunca mais existisse sem o som das batidas do coração dele. E, por fim, parece que apenas começamos.
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Dois anos de uma grande árvore

Porque há dois anos atrás ela não imaginava o tamanho da árvore que havia plantado e nem o quanto essa árvore cresceria. Porque dele é o coração dela, com todos os medos e os segredos. Porque, depois de dois anos, o mundo já não parece ser igual a antes. Nem mesmo o vento tem o mesmo toque. Nem mesmo as músicas que ela ouvia antes fazem algum sentido se ele não ouve com ela e dá a sua opinião sobre aquela letra que falava de um amanhã melhor. Porque as calçadas tem outro tamanho quando se está em par e isso é muito bom. Porque os cheiros, os gostos e até mesmo o olhar mudaram com esses dois anos que foram os em que a menina mais aprendeu e provavelmente mais cresceu. Ele esteve com ela e fez aquela grande árvore brotar e crescer. Ele esteve com ela e é melhor do que qualquer um pode ser. Em cada momento, sendo bom ou não, ele lhe deu a mão e mostrou um caminho novo. Ele esperou passar a chuva que a árvore que a menina plantou não suportou. Ele esperou debaixo da árvore e também, algumas vezes, se molhou. Ele também sentiu os raios do sol e a sombra perfeita pro calor que as vezes fez. Muitas vezes a árvore foi arranhada, mas está a cada dia mais curada e ele esteve junto da menina, zelando pela árvore, que agora fixa as suas raizes em um solo cada vez mais seguro. Obrigada por ser como você é. Obrigada por me dar a mão e por estar comigo em todos os momentos, inclusive quando as vezes não parece bom. Obrigada por compartilhar comigo a sua vida e por permitir que eu faça parte dela. Obrigada por sorrir, por sonhar, por cantar mesmo que fora do tom. E me desculpa por não escrever um texto tão bom.
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20 de março de 2018

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Cor de rosa

Algumas vezes ela imaginou que precisava ir muito longe pra encontrar o seu caminho, porém a menina se enganou. As vezes, tudo o que queremos é aquela rosa do nosso jardim que é igual a todas as outras rosas, porém é a nossa rosa querida e cuidada. 
O dia amanheceu tão calmo naquela manhã. O reflexo do fraco nascer do sol entrava pela janela do seu quarto e acabava com aquele breu. Quando o dia amanheceu, nada mais parecia estar tão ruim quanto na noite anterior. Tudo acaba, e as vezes acaba bem. 
A menina se arrumou e saiu. Será que já é tão tarde assim para que ela possa pular nas poças d'água, como uma criança alegre em uma manhã de outono? As vezes ela pensava ser tão grande em um mundo tão pequeno, contudo esse foi um dos seus piores erros: ela é que era tão pequena para uma terra tão grande, onde as outras pessoas também se achavam tão gigantes e faziam das suas vidas moeda de troca. Será que vale a pena? 
A menina não enxerga mais com os olhos banhados de orgulho e pretensão. Nada vale a pena se no fim, não tiver realmente um fim. Como assim? Acontece que a menina entendeu, enquanto pensava se podia ou não pular nas poças d´água, que o essencial, o verdadeiro, o nobre, aquilo que realmente importa, é invisível aos nossos olhos. No fim da sua reflexão, ela pulou na água, e então recebeu em troca algo invisível aos olhos, mas que era o seu desejo mais profundo: A pequena e, muitas vezes medrosa menina, sentiu-se feliz em enxergar a alegria naquele pequeno gesto e, quem sabe, sentir uma espécie de liberdade em enxergar com o coração. 
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14 de fevereiro de 2018

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Uma gota no oceano

A menina está tentando se acalmar, mas a paisagem passa muito rapidamente por seus olhos enquanto o carro corre. Ela entendeu que não precisa começar novamente, e muito menos precisa de mais tempo para perceber onde está. Isso depende somente dela, e talvez tenha sido sempre assim.
O vento sopra através da janela, o clima quente não a incomoda mais, uma vez que está em casa agora. Todas as árvores balançando, todos andando, todos impetuosos por vencer o mundo, mesmo que se precise ir contra o universo inteiro, mesmo que se perca um amigo nessa jornada. Parece tão difícil ir mais devagar. Parece tão difícil acreditar que existe um momento certo para todas as coisas e que não se deve adiantar os desprazeres e as dores da vida enquanto os males nem mesmo ocorreram.  
É tão difícil fechar os nossos olhos perante um mundo de caos. É tão difícil tentar ir mais devagar, porque as vezes parece que as ondas do mar irão nos levar para muito longe daqui e nunca mais nos encontraremos. 
Não vale a pena se for pra não ser verdadeiro. Não vale a pena se não for pra acreditar num amanhã mais calmo. Não vale a pena se nunca mais pudermos nos deitar naquele gramado e somente olharmos o céu. Não vale a pena se tivermos que sempre perder amigos e se sentir no dever de esquecer as boas lembranças. Não vale a pena se não soubermos o que é verdadeiro e o que não é. Nada fará sentido se um dia decidirmos nunca mais nos ver. O céu perderá o seu azul e a chuva não cessará nem mesmo ao fecharmos nossos olhos. Você se tornaria mais uma gota no oceano, mas ainda assim seria a gota que eu conheci. Mesmo de longe eu poderia saber que seria você e tudo o mais não importaria novamente.
A menina acredita que possamos ir mais devagar. Não precisamos começar novamente, não precisamos voltar ao início, não precisamos acabar. 
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31 de agosto de 2016

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Tempo

Não se pode mais parar no meio da estrada. Não se pode mais dar um abraço bem apertado e se mergulhar em lágrimas. Não se pode mais ouvir aquela velha música acompanhada com um café. Não se pode mais deitar na cama, enrolar-se e simplesmente dormir. Não se pode mais olhar no fundo daqueles olhos e o ouvir daquela boca as palavras mais lindas do mundo. Não se pode mais ouvir dizer que o mundo anda muito rápido e que tudo está virado em um caos. Não se pode mais dar as mãos e não querer nunca mais soltar. Não se pode conversar. Ouvir. Dizer que sentiu falta de alguém. Não se pode brincar, nem mais escrever. E hoje, logo pela manhã, descobri que já não se pode olhar para o céu e, em meio às nuvens, admirar o sol nascer. Nem ao menos fitar o que antes chamaríamos de infinito, posto que agora é somente um dia comum.
           Nós queremos o mundo de volta e queremos o mesmo vento que ventava naqueles fins de tarde na primavera passada. Quero muito, e você sabe, os mesmos pingos da chuva de setembro passado, onde outrora eu te conheci. Quero tanto e se o mundo todo parasse pra ver, veria que tudo o que eu quero no fim se resume em ficar com você.
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1 de junho de 2016

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Um café

O vento bate em nossas costas e aquilo se parece com a liberdade que sempre desejamos ter. Os raios do sol numa tarde de inverno refletem nos seus olhos, e aquilo lembra um afago amigo do qual ela antes sentira tanta falta. A rua está cheia de folhas caídas no chão. Isso, sem querer, nos fez ter vontade de chutar a calçada. 
       Sim, ela esperava por tudo isso como sempre esperou em cada novo ano, porém, agora, esses pequenos detalhes nos trazem uma vontade quase impulsiva de correr de mãos dadas e chorar de rir. Momentos assim, meus caros, são praticamente inesperados em nosso cotidiano, portanto, devem sem dúvida, serem aproveitados. 
      Há muito tempo que não falamos aquilo que está em nossos corações, há muito tempo deixamos a desejar com as nossas mágoas mal resolvidas, nossas questões internas e quase secretas, da qual nos afastamos, não mencionamos, fingimos não existir. Nós também somos fracos, também temos medo, também queremos somente que tudo fique bem no final. A gente precisa das nossas mãos dadas, porque sem isso o mundo parece não girar. Somos poeira estelar, vagando no espaço. Somos um ponto azul no meio do nada. Pra quê sermos importantes? Para quem sermos importantes? Para quem seja importante também e somente para esse "quem". 
      O vento bate em nossas costas, faz um barulho quase assustador em nossas janelas. Ainda assim, nós estamos a salvo. Nós estamos vivos e estamos olhando em nossos olhos com a maior resplandecência possível. Sinceridade, isso eu prometo para nós.
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4 de maio de 2016

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Meu herói

Talvez ela tenha passado muito tempo procurando por algo específico e deixado de viver o momento que lhe entregavam como um presente em suas mãos. Talvez ela tenha visto as folhas das árvores amarelarem e caírem outono após outono, mas não tenha se dado conta do que realmente aquilo significava. Talvez ou, na realidade, muito provavelmente, ela tenha deixado os anos passarem sem com que as folhas amarelassem e caíssem dentro dela e, por consequência, sem amadurecer novos frutos, novos ideais. 
     Talvez o café que ela estava acostumada a beber todos os dias de manhã, não fosse antes tão saboroso quanto agora é. Talvez chutar as folhas de outono que caem naquela rua tão conhecida não fosse antes tão divertido quanto agora é. Talvez e, na realidade, muito provavelmente, cada novo surgir do sol antes não tivesse tanto sentido quanto agora tem. 
      Ela encontrou quem risse das suas piadas infames. Ela encontrou quem chutasse as mesmas folhas e tomasse sempre o mesmo café. Ela encontrou quem achasse graça nos momentos em que ela falasse sozinha. Ela encontrou alguém com muitas manias, que embora diferentes das dela, não são menos importantes. Ela encontrou alguém com ideais austeros e exímios de opinião. Ela encontrou alguém que erra e admite que errou. Ela encontrou alguém que conserta. Ela encontrou um sorriso que por vezes é quase tímido, mas que constantemente se manifesta e resplandece no brilho do olhar. Aliás, "encontrou" aqui é somente para efeito de construção frasal. A menina não encontrou, pois ele não estava perdido. A menina conheceu. Reconheceu. Aconteceu. 
    No fundo, ela sabe que ele também foi um pouco responsável por salvar-lhe da completa escuridão. Ela admite que a vida é feita para se aprender e que nada está completamente solucionado, já que ainda haverão outras questões. Por hora, o que importa é que ela encontrou o seu herói, que faz o mundo ganhar um novo sentido e se tornar um lugar menos ruim de se viver. Sim, um herói sem capa e que ainda aprende a entender a vida, assim como ela.

E, por esse herói, o coração da menina arde.
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